sábado, 14 de março de 2009

Mendel e seu ambiente




O ambiente, como já vimos, interage com o genótipo, influindo na determinação do fenótipo. Isso também vale para as pessoas. O que somos e o que realizamos, como seres humanos, é resultado não só de nossos genes, como também do ambiente em que vive­mos, do tipo de família que temos, dos professores que nos estimulam — enfim, das con­dições que cercam nossa vida. Por isso, conhecendo o ambiente em que Mendel viveu e as ideias de sua época, teremos mais elementos para compreender seu trabalho. Mendel nasceu em um lugarejo da antiga Tchecoslováquia, em 1822, em uma família de camponeses que trabalhavam nas terras de uma família nobre.Teve suas primeiras noções de ciências naturais na escola local. Não era comum, na época, ensinar essa disciplina nas escolas; no entanto, a dona das terras acreditava que as colheitas aumentariam se o cam­ponês aprendesse técnicas agrícolas. Muito cedo, o padre da aldeia reconheceu em Mendel um aluno de inteligência excepcional e interessado pelo assunto; assim, recomen­dou que fosse mandado para um ginásio a 50 km de distância.
A família de Mendel, com problemas financeiros, logo deixou de ajudar o jovem a se man­ter longe de casa, e ele teve muita dificuldade para prover seu sustento e continuar os estudos. Mendel logo percebeu que a única forma de continuar estudando seria abraçar a vida religiosa. Assim, aos 21 anos, ingressou no convento dos agostinianos, na cidade de Brünn.
O ambiente do convento era extremamente favorável ao estudo científico. Provavelmente, a Revolução Francesa influenciara os pensadores da época, que acredita­vam num ideal de progresso a ser atingido pela fusão da filosofia com a ciência. O con­vento agiu, assim, como um catalisador no desejo de Mendel de continuar aprendendo. O superior do convento, o abade Napp, entusiasta das ciências naturais e membro de várias sociedades agrícolas e científicas da região, estimulava os monges a serem treina­dos para o trabalho científico. Além disso, encorajava o ensino de ciências no ginásio téc­nico da cidade. Havia no convento estudiosos de várias disciplinas: filósofos, matemáticos, mineralogistas, meteorologistas. No jardim do convento, eram cultivadas espécies vege­tais raras. Foi aí que, mais tarde, Mendel desenvolveu seus experimentos. As autoridades eclesiásticas da época não viam essa efervescência científica com bons olhos. O bispo da região chegou a fazer uma investigação, concluindo que as atividades do convento estavam muito mais voltadas para a ciência do que para a religião. Recomendou a destituição do superior, Napp, e até a dissolução do convento; felizmen­te, nada disso se concretizou.
Mendel, além de aprender muito no contato com seus colegas, foi várias vezes professor-substituto no ginásio da cidade. Como se saiu muito bem, Napp decidiu mandá-lo para Viena, onde tentou por duas vezes obter seu doutoramento, condição para continuar lecionando. Na primeira vez, foi reprovado em zoologia; na segunda, por estranho que pareça, em botânica! No entanto, foi na Universidade de Viena que Mendel estudou físi­ca, tendo sido aluno do famoso Doppler3. Foi assim que Mendel adquiriu os conhecimen­tos metodológicos que mais tarde lhe permitiram planejar e desenvolver suas experiên­cias. Seu treinamento em matemática forneceu-lhe a noção de que toda experimentação científica deve ser passível de confirmação matemática e estatística. Além disso, Mendel teve em Viena contato com um famoso professor de fisiologia vegetal. Na época, a noção de que as plantas são também constituídas de células (lembra-se da teoria celular?) começava a ser ensinada na Universidade de Viena. Além disso, em 1856,
um trabalho de botânica molïtrlivIicflTorma definitiva que a reprodução vegefsr (JëperF dia tanto da parte masculina quanto da parte feminina das plantas. Essa noção foi funda­mental mais tarde no planejamento das experiências de Mendel. No entanto, o professor de botânica que examinou Mendel em sua segunda tentativa de se doutorar não estava de acordo com essa ideia. Desconfia-se que, durante a arguição, tenha havido algum desentendimento entre eles; pela segunda vez, Mendel foi reprovado, e voltou a Brünn em 1856, profundamente deprimido. O desânimo durou pouco. Mendel voltou a ensinar, tornou-se membro de sociedades agrícolas e científicas da cidade e começou a planejar o trabalho que mais tarde o torna­ria famoso. Seu interesse pelo cultivo de vegetais vinha do contato que tivera com a terra, na infância. Entre 1856 e 1865 estudou pelo menos 28 mil pés de ervilha, analisando sete características de forma cuidadosa, e enunciou as conhecidas leis que levam seu nome. Em 1865, apresentou seus trabalhos na Sociedade de Ciências Naturais, publicando seu trabalho em 1866. Manteve correspondência com um famoso botânico da época, Karl Wilhelm von Naegeli (l817-1891), que, embora o estimulasse, provavelmente nunca entendeu o alcance de suas descobertas. Mendel sem dúvida teve conhecimento dos trabalhos de Darwin. Não há documentos defi­nitivos a respeito de sua opinião; no entanto, em alguns textos, ele deixa claro que aceita a noção de que as espécies são passíveis de transformação. Segundo testemunhos da época, teria chegado a dizer que "parecia faltar alguma coisa a essa teoria". Será que Mendel se referia à origem da variabilidade, que Darwin não explicava? Na verdade, a noção de gene, desenvolvida por Mendel, viria completar a teoria darwinista no século XX.Mendel continuou sua atividade de pesquisador: realizou outros experimentos com plan­tas, cruzou abelhas, estudou meteorologia e até o fim da vida manteve o interesse por assuntos científicos. No entanto, sua vida tomou outro rumo a partir de 1868. Prestigiado como cientista, professor, membro de sociedades científicas e estimado por seu grande equilíbrio, foi eleito abade superior de seu convento, sucedendo a Napp. Como membro agora importante da sociedade de Brünn, tomou certas posições políticas que o antago­ nizaram com muitas pessoas, incluindo alguns monges de seu convento. Opôs-se firme­ mente à intervenção cada vez maior do Estado, que queria cobrar do convento impos­tos a seu ver absurdos e escabidos. Teve de se afastar da ciência, já que seus deveres administrativos o absorviam Mendel faleceu em janeiro de 1884. Em 1900, por experimen­tação própria, três bió­logos redescobriram os trabalhos de Mendel e reconhece­ ram que ele havia che­gado a conclusões similares em 1865. Na verdade, pode-se dizer que a genética moder na começou em 1900. Foi somente na déca­da de 1930, porém, que se entendeu clara­ mente de que forma a teoria evolucionista de Darwin era complementada pelas desco­ bertas de Mendel. O jardim onde Mendel fez seus experimentos.

Há. no texto, muitas referências que justificam o interesse de Mendel pela pesquisa científica. Cite algumas dessas referências.
Diz-se, frequentemente, que o treino matemático de Mendel foi funda­mental para a elaboração de sua teoria sobre a hereditariedade. Em outras palavras, os resultados de Mendel foram não apenas qualitativos, mas também quantitativos. Por que foi importante Mendel contar as ervilhas que obtinha como resultado?


3. Doppler foi o cientista responsável pela descoberta do efeito Doppler, estudado em física.

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