RIO - A despeito de toda polêmica fomentada por fundamentalistas
religiosos, a Teoria da Evolução é considerada um dos pilares da ciência e, seu
autor, um dos mais conhecidos e influentes cientistas e pensadores do mundo.
Mesmo quem não é capaz de citar muitos nomes de cientistas costuma se lembrar
de Charles Darwin. Curiosamente isso ocorre — ao menos em parte — por conta da
seleção natural e da sobrevivência das ideias do mais bem adaptado no mundo
acadêmico. No caso, Darwin.
É que, na verdade, ele não foi o único autor da ideia da evolução pela
seleção natural. Um outro naturalista britânico, Alfred Russel Wallace,
desenvolveu ideias semelhantes em paralelo às de Darwin e acabou apresentando
com ele os primeiros estudos sobre o tema, em 1858. Entretanto, atualmente,
poucos se lembram da contribuição de Wallace, morto há um século. Isso faz
sentido porque, embora fosse um sujeito de ideias revolucionárias, ele não era
capaz de desenvolvê-las. Mesmo assim, explicam especialistas, se antecipou a
Darwin na preparação de um esboço de estudo e, se não tivesse decidido submeter
o seu trabalho ao colega, poderia ter tido a primazia da publicação.
— Wallace era o cara que tinha o estudo pronto para publicação — disse o
curador do Museu de História Natural de Londres, George Baccaloni, em
entrevista ao jornal “Independent”. — Se ele tivesse mandado o trabalho
diretamente para a academia, ele teria sido publicado e a seleção natural teria
sido uma descoberta de Wallace.
Darwin e Wallace percorreram caminhos muito diferentes para chegar a
ideias similares. Darwin era de uma família tradicional, endinheirada, teve uma
educação formal, frequentava o meio acadêmico, era meticuloso e passou anos
estudando. Wallace nunca foi à universidade. Era um autodidata e rodava pelo mundo
em viagens de campo. Com pouco mais de 20 anos, já tinha lido todo tipo de
relato disponível na época que mencionasse a possibilidade de transformação das
espécies.
— Alguns autores achavam que isso era possível, mas não havia nenhum
mecanismo proposto, tudo era muito especulativo — contou o professor Ricardo
Campos da Paz, responsável pela cadeira de evolução na Universidade Federal do
Estado do Rio (Unirio). — Um dos livros mais populares sobre o tema, do
naturalista Robert Chambers, era muito criticado na academia por não trazer
evidências sólidas sobre a questão. Mas Wallace estava convencido de que as
espécies se transformavam e buscava uma explicação para isso.
Darwin, por sua vez, quando embarcou no Beagle, em 1831, não estava
muito preocupado com isso. A ideia de que as espécies se transformavam e o
mecanismo que tornaria isso capaz foram amadurecendo ao longo dos cinco anos de
viagem e, sobretudo, durante muito tempo depois, enquanto trabalhava, sem
pressa, e com muito apuro, em seus estudos.
Wallace foi bem mais rápido. Durante uma expedição nas Ilhas Molucas, na
Indonésia, ele escreveu um ensaio no qual definia as principais bases da Teoria
da Evolução e o enviou a Charles Darwin, com quem mantinha correspondência,
pedindo ao colega uma avaliação do trabalho e o posterior encaminhamento ao
geólogo Charles Lyell para publicação. Ao ler a correspondência, Darwin
rapidamente percebeu que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria
praticamente igual à sua, na qual vinha trabalhando em segredo por duas
décadas. De forma correta, Darwin encaminhou o ensaio a Lyell recomendando a
publicação, mas desabafou: “Nunca vi uma coincidência maior. (...) Toda a minha
originalidade será esmagada.”
Foi então que Lyell e o botânico Joseph Hooker, também amigo de Darwin,
propuseram que os trabalhos fossem apresentados juntos à Sociedade Linnean de
Londres, na época um dos mais importante centro de estudos de história natural
do Reino Unido. O que foi feito. Darwin, no entanto, correu para concluir o
livro que vinha escrevendo, “A origem das espécies”, que acabou sendo lançado
um ano depois, em 1859, com 500 páginas (originalmente, seria muito maior). Se
os estudos não chamaram muita atenção, o livro causou, de cara, grande
polêmica.
— É da publicação do livro que vem o grande debate — afirmou Ricardo
Campos da Paz.
O livro fez com que as ideias contidas na Teoria da Evolução circulassem
fora da academia. Vale lembrar que o trabalho não só ofereceu uma explicação
científica para a evolução das espécies, incluindo a humana, mas também baniu o
sobrenatural das ciências naturais, reduzindo o poder das religiões nos
assuntos terrenos.
A teoria derruba de vez a ideia de que o homem poderia ter uma origem
divina e ainda sustenta que ele compartilha um ancestral comum com os macacos.
E é justamente aí que os caminhos de Wallace e Darwin se separam.
Wallace acreditava que a seleção natural explicava toda a diversidade
biológica, menos a mente humana — que ele considera complexa demais para ser
explicada dessa forma. Para explicá-la, Wallace evoca um “espírito superior”, o
que enfurece Darwin.
— Wallace fez contribuições importantíssimas para a ciência. Se você é
zoólogo, biólogo, certamente vai prestar-lhe refeverência — afirmou a bióloga
Maria Isabel Landim, do Museu de Zoologia da USP, criadora do Dia de Darwin no
Brasil, há dez anos. — Mas Darwin é um marco importantíssimo das ciências
biológicas porque foi ele quem baniu, de uma vez por todas, o sobrenatural como
hipótese válida para responder perguntas sobre fenômenos naturais. Isso não
ocorreu com Wallace, que não deu o passo decisivo, não foi às últimas
consequências.
Não só Wallace defende a existência de “um criador” para explicar a
mente humana, como envereda por caminhos cada vez menos científicos,
interessando-se por espiritismo, hipnose, esoterismo. No severo mundo acadêmico
do Reino Unido, Wallace passou a ser visto mais como um excêntrico do que como
um cientista.
Em grande parte, acabou sendo esquecido. Darwin, por sua vez, mais bem
adaptado ao seu meio e preparado como cientista, perseverou, tornando-se um dos
maiores nomes da ciência. É a seleção natural atuando sobre seus próprios
criadores.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/alfred-wallace-outro-pai-da-teoria-da-evolucao-11754418#ixzz2unhAYdF9
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1)
Pesquise mais sobre a
vida de Wallace e discuta sua importância de para a Teoria de Evolução . (Argumentação com no mínimo 500 palavras)